Cara a cara

Aqueles olhos que vejo a minha frente, não são olhos de compêndios, não há registros que sustente aquele olhar

E naquele tom mora uma voz. Um voz que me toca, corta e me fala em cada vibração: estou vivo!

Aqueles desejos recheados de passos, mãos, lidas, sorrisos, lágrimas; não vi palavra alguma decifrar-lhe os enigmas das suas existências.

E aquele segredo encoberto por certas posturas contraditórias, gerando tanta impaciência nos iguais em esforço por serem diferentes. Ah tão lindo o desejo puro de não querer atender a premissa alguma e continuar a manter-se no lugar onde se vive o que se pode viver!

E aquelas páginas todas sobrepostas, revirando-se como se soubessem de onde vem tanto pulsar. Apagou-se em meio a página em branco diante de mim, mas tão viva, viva naquele olhar!

E aquela confiança perdida em suas inseguranças, espalhadas em minhas mãos. Como não permitir que esta, em singular existência falasse o que de si transborda, mas no silêncio ainda de suas palavras?

E foi impossível não sorrir quando se fez o encontro do que se assemelha. Toda vontade discordante caiu no colo das diversidades e entendeu-se dos caminhos, falou-se da abundância e supriu-se, todo o espaço ou distâncias, daquelas singulares, humanidades.

E foi assim que se disse: vá! E ele disse sim, vou e sei que fico em algum lugar. Sei que aquele que fica ou vai; retorna ou jamais volta, este, sempre permanece em cada um de nós.

Criou-se, floresceu sem que ninguém presenciasse, mas todos em algum espaço em si mesmos, tornou-se livre do provar ou comprovar alguma coisa. Foi assim que os caminhos riscados por tantos dedos e ditados por tantas vozes, retornaram aos seus lugares de direito e sussurrando a si mesmos: "Tarefa cumprida. Eis que mais alguns se colocam a nos transcender!"

Viver nos coloca cara a cara com a vida e fica impossível não respeita-la no outro, mesmo diante das contrariedades e discordâncias.

Kátia de Souza - 03/07/2021