ABUTRES
Hoje o meu dia é reflexivo,
volta e meia
é preciso arrumar as gavetas.
Ver o que ainda tem utilidade,
o que pode ser transformado,
para ficar mais atualizado
e deitar fora o que não presta.
Algumas pessoas
têm a mania de acumular
o que já não tem préstimo,
e sem que se apercebam
instala-se a doença.
Uma reflexão leva a outra
e a palavra acumular
levou-me até áquelas pessoas
que parecem abutres
á espera que alguém morra,
para deitar a mão
ás coisas mais inverosímeis,
gamando-as á socapa,
como se isso tornasse a vida delas
mais rica e mais cheia de beleza.
Estas atitutes revelam
o quão paupérrimos são por dentro.
É triste ver
que o móbil destas pessoas
neste mundo,
é inconsistente, é enganador,
é traiçoeiro, é ganancioso.
Viver de aparência é o seu maior luxo.
São pessoas feitas com palha seca,
Até nisso foram avarentas.
se pegam fogo,
consomem-se num ápice
e não deixam rasto.
Não vale a pena seguir tais passos.
Colocam a matéria
acima dos sentimentos e das emoções.
A matéria…
O tempo encarrega-se de decompor.
Uma pessoa sem sentimentos
e sem emoções
é árida, é fria, é calculista, é desumana.
Ali não há amor.
Vale a pena viver assim?
Eu passo!
Hoje poderia dizer
que sou uma pessoa feliz,
se não me afligisse
o clamor das crianças, dos desvalidos
e dos sem abrigo
que sobrevivem com nada,
por esse mundo fora!
©Maria Dulce Leitao Reis
Copyright 18/06/21