Conflito // Eligio Moura //Prosa poética

O espelho me assusta, me aluga,

me fustiga, me assombra

pois nunca me vejo.

Tento olhar-me nos olhos

e não alcanço os meus traços;

miro uma imagem caricata

que não me retrata.

Não reconheço a mensagem;

parece miragem,

uma réplica malfeita de mim,

tudo se parece mas não me refrata.

Os olhos do mundo real, no virtual, denunciam a trama:

a imagem não coaduna com o original.

Os olhos, a janela do mundo real,

se enganam, ou o meu eu está pelo avesso?

Saio abatido, pois não sou mais eu.

A mão, a barriga, o cabelo:

não são meus...

A mesma criatura real e a surreal

se recusam: uma jura que é jovem

a outra escancara a verdade...

E me aponta numa delação temporal.

O portal reflete os novos traços e uma barriga.

Que portal é esse que me nega e macera?

Onde está minha imagem?

O silencio aterrador

me aponta o tempo na face,

nas mãos, no pescoço

como uma identidade.

Sou jovem...insisto.

sou até bonito...meu ego confirma.

O silencio do espelho cala mais forte

num sorriso sarcástico...

E as minhas cãs e rugas

confirmam a dor de ser vivo

numa gargalhada abafada e silenciosa.

(Reedição)

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Agradecemos ao mestre Jacó Filho a gentil operação

O recado do espírito,

Para que olhe além,

Do que a matéria tem,

É cada vez mais explícito...