Mais uma bala perdida.

Mais uma bala perdida.

A estória se repete.

A mesma edição.

A mesma cena.

Não é filme de ação.

Não é ficção.

É a realidade caótica.

Na rota da impunidade.

A bala voa de uma arma apontada.

Sem pena.

Mais uma vida ceifada.

Um sonho destruído.

Uma família em fragmentos.

São tiros pra todo lado.

De um lado pra outro.

O corpo corre.

Cansado se esconde.

Num cenário de filme de guerra.

Atrás do armário.

Na sala e no quarto.

A respiração ofegante.

Não esconde o terror.

O pavor do barulho ensurdecedor.

Projéteis transitam pelas ruas.

Como numa praça pública.

Sem culpa nenhuma.

Ninguém tem culpa.

Como facas afiadas.

Rasgando projetos e sonhos.

Invadindo casas.

Sem pedir licença.

Eu escuto estupido.

Meus ouvidos gritam.

Meu olhar perplexo cala.

Observa a guerra que vem das ruas.

Meu sorriso grita e chora.

Não é festa de São João.

Não é ilusão.

É a maldita bala perdida.

Que sai da mira.

Que cospe sua saliva.

Ácida e impetuosa.

Da mão certeira do carrasco.

Fato e descaso.

É mais um caso sem solução.

Mais um na estatística.

É mais um negro abatido.

Um cidadão.

Com o corpo vermelho no chão.

No rio de lama de sangue.

Que escorre e corre

Cessando a respiração.

Seu silêncio final.

Afinal a culpa é da bala perdida.

Atrevida.

Que faz curva no escuro da noite.

Quiçá na luz do sol do dia.

Que adentra sem licença.

Sem bater na porta ou janela.

Na casa das famílias.

Que quebra tudo.

Penetra profundo.

Deixando marcas infindas.

Maldita bala perdida.

Que não ver.

Que não fala ou escuta.

Apenas mata sem culpa.

(Almeida, M. M. de)

Almeidamel
Enviado por Almeidamel em 13/06/2021
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