NÃO É PROBLEMA MEU, É DELES
É incrível ter chegado á minha idade
e eu digo incrível
porque achava que não passava dos 30.
Era eu muito jovem, uma adolescente,
tinha por hábito
sentar-me na quina da mesa.
Alguém me augurou vida curta,
superstições.
Era sempre muita gente á mesa
e eu sentando-me na quina
achava que não incomodava os outros,
reflexos duma infância sofrida.
Secretamente eu ansiava vida longa,
queria ser dona do meu tempo.
Queria ser escritora.
Hoje sou dona do meu tempo.
Cheguei a uma idade
que já não preciso agradar a ninguém.
Quem quiser,
que me aceite como eu sou.
Não destrato ninguém,
por natureza sou sensível e afável.
Pegando num ponto um pouco atrás,
na verdade há uma pessoa
a quem faço questão de agradar,
a mim própria.
Eu mereço o melhor que eu me possa dar.
Tem sido uma aventura e tanto,
recheada de peripécias;
atentados, traumas, bloqueios,
engarrafamentos e muita alegria
que eu aprendi a cozinhar
com os ingredientes
tristeza, dor e alguma sabedoria.
Hoje vivo serena e tranquila,
saboreando
os meus pequenos grandes prazeres.
Se alguém se sentir mal com isso,
não é problema meu, é deles!
Faço uma pergunta,
quem acha que as crianças
merecem ser maltratadas?
É claro que é uma pergunta retórica.
Todos nós já fomos crianças.
Fui-me construindo
aplicando cada tijolo
assente na consciência
que inevitavelmente gera bondade
e amor.
Hoje, estou num patamar,
onde dispo a minha camisa
para a dar áqueles
que "ontem" ma tiraram.
Eu sei que não a aceitam,
porque não evoluíram,
não cresceram,
ficaram em estado rudimentar.
Não é problema meu, é deles!
Lamento tanto que as pessoas
não aproveitem a vida profundamente.
A vida é uma benção preciosa
e é um desperdício
ser vivida superficialmente,
não esquadrinhando os tesouros
escondidos no núcleo de cada um.
A Terra
é um estrado estendido no Universo,
um portal ou um trampolim
para níveis superiores.
Quando partirmos,
deixamos o corpo
e todos os bens materiais
pelos quais muitos se digladiaram
e outros se mataram
e para quê?
Ninguém leva nada desta vida,
porque é tudo emprestado,
nada nos pertence,
apenas tomamos conta das coisas.
O que levamos são riquezas invisíveis
acumuladas na alma
pelos bons pensamentos
e pelas boas ações,
o bem que fizemos aos outros.
Há tantos que não pensam assim,
mas não é problema meu, é deles!
©Maria Dulce Leitao Reis
Copyright 11/06/21