O POETA

O poeta

é como um jogador de pôquer:

recebe as palavras e as transformam

em ases transfigurados, revelam

o oculto que há em suas dobras,

põe no papel os múltiplos sentidos

e se declara vitorioso na batalha

contra o branco silêncio.

O poeta

sabe quando às tempestades virão,

uma por uma, do seu casulo retira

o fio com o qual tecerá a ponte

sobre o abismo, aceita a chuva

torrencial e protege os seus,

lhe sobra um tanto de tempo,

senta e escreve sobre a viagem...

O poeta

verga o orgulho até que ele toque a terra,

ouve os minérios conversando,

cria as asas que se despedaçarão

contra o sol fulgurante no quintal da criação,

ergue a coroa e se unge rei de si,

nada mais teme, nem o fogo,

ele é o outro, sua alma irmã.