UM DIA
Talvez, um dia,
quando os poetas, exilados,
estiverem a comer cocos e bananas,
escrevendo cartas marítimas,
entenderemos que a Terra é uma ilha
solta no espaço, espécie de marionete
com tempo de validade, como um circo
que passa pela nossa cidade, uma vez só...
Talvez, um dia,
antes do último dia no calendário cósmico,
ousemos rever conceitos mecânicos
e filosóficos, na varanda do Paraíso,
olhemos para dentro do passado,
ali estarão as rachaduras nos propósitos,
a calvície da Terra, suas queimaduras,
e nós, herdeiros dos primeiros macacos,
a escrevermos versos nas cascas de bananas,
derramaremos uma única lágrima, cristalizada,
do qual se fará um pingente para colocarmos
no pescoço de Deus.