MUSA
Não compreendo sua língua estrangeira,
mas seu canto, sua voz, entoando
do folk ao blues, enchem-me de sentimentos,
e sua língua estrangeira me é traduzida
em poesia abrasileirada/aportuguesada
purgando minha dor de povo oprimido!
Quando te ouvi pela primeira vez,
jovem ainda, sob a ditadura militar,
sentia uma leve esperança em outro dia
minha musa, linda musa, Joan Baez
de língua estrangeira que não entendia,
mas sentia ser contra a opressão
dos povos, inclusive o seu,
seus jovens morrendo no Vietnã,
seus jovens negros morrendo pela polícia,
assim como nossos jovens negros e brancos,
que lutávamos por outro amanhã,
e sua voz, seu canto, unia numa luta só,
estrangeira voz que eu entendia
pelo tom do dolorido lamento
que eu sentia como sendo sertanejo!
Sua língua estrangeira que não entendia,
você a universalizou em espanhol,
cantando Mercedes Sosa, Violeta Parra,
Victo Jarra, Geraldo Vandré!
Aí percebi que a poesia cantada
contra qualquer tipo de opressão
não tem língua estrangeira
que por mais que pareça incompreendida
ela sempre atingirá o coração!
(Para JOAN BAEZ, eterna musa)