Havia um lago profundo
Havia um lago profundo
De fundas e longas miragens
De incertas margens
Que se alongam quando se estreitam
Que crescem quando se cala
A voz que de espanto grita
No abandono em que fica
As sombras que em cantos espreitam
Não falar da morte
Ou falar da morte
O dia em que meus pés
Não beijarão mais
A vereda das flores
Nem o lírio das cores
Festejarem em meus olhos
A calma luz do sol
Mas o ar me enche
De uma ilusão de pedra
De vir o vento
Voltar a chuva
O pássaro azul
Cantar seu sonho no muro
O sol palmilhar as folhas
O rígido perfume das inconstâncias
O bailar flutuante das nuvens
Que sei eu da morte afinal
Se nem ao menos sei
Quantos átomos enchem
O vazio do precipício