A CONDIÇÃO HUMANA
A CONDIÇÃO HUMANA
O nascimento? Princípio do fim.
O amor? Devaneio de uma noite de verão.
O sexo? Pulsão efêmera, útil e prazerosa.
A fecundação? Acidente probabilístico do acaso.
A vida? Aventura mentirosa.
A existência? Tirania egocêntrica da razão.
A razão? Pensamento que sucede com atraso.
A felicidade? Encontro de botequim.
A tristeza? Requiem de bandolim.
A alegria? Cabe dentro dum vaso.
A saúde? Antítese da doença.
A doença? Inexorabilidade temporal.
O desejo? Não faz diferença.
A vontade? Tal e qual, tudo igual.
A bondade? De mãos dadas com a falsidade.
A maldade? Humana autenticidade.
A liberdade? Sentença da condenação.
A saudade? Somente em verso e prosa.
A religião? Ópio do coração.
A fé? Fantasia maravilhosa.
O sucesso? Igual verbo no particípio.
O sofrimento? Energia primordial e imperiosa.
A dor? Necessária e positiva.
O tempo? Abstração sem prerrogativa.
A morte? Fim do princípio.
Marco Antônio Abreu Florentino
https://youtu.be/Ftp7IFxT9hA
(Roda Viva - Chico Buarque)
Em complemento à minha prosa poética, com vocês, Antero de Quental, genial poeta português do séc. XIX:
SÓ MALES SÃO REAIS, SÓ DOR EXISTE
Só males são reais, só dor existe:
Prazeres só os gera a fantasia;
Em nada[, um] imaginar, o bem consiste,
Anda o mal em cada hora e instante e dia.
Se buscamos o que é, o que devia
Por natureza ser não nos assiste;
Se fiamos num bem, que a mente cria,
Que outro remédio há [aí] senão ser triste?
Oh! Quem tanto pudera que passasse
A vida em sonhos só. E nada vira...
Mas, no que se não vê, labor perdido!
Quem fora tão ditoso que olvidasse...
Mas nem seu mal com ele então dormira,
Que sempre o mal pior é ter nascido!
Antero de Quental, in 'Sonetos'