Canção outonal do amor e da vida

O dia nasce, triste como a morte,

E eu sou a luz esquecida desse dia

Feito de sombras que nada alumia,

Feito folha desferida à própria sorte.

O dia nasce e morre, como a Morte

Deixada de ser morte e de ser dia,

Jogo final tornado em cinzas frias,

Sou meus sonhos sangrando sinas.

A morte é a nuvem do horizonte distante,

A lúrida promessa lá no céu claro e casto

Que guarda o incognoscível como um deus nefasto,

Segredo e temor armazenados pelo último instante.

A Morte vem e voa, como um albatroz

Estonteado pela liberdade do meio-dia,

Vem e pousa a Morte sempre de forma feroz,

E daquele pássaro cheio de vida findou a voz.

Mas sempre surge a tarde, clara como a vida!

A tarde avança como a proa dos belos navios

Na brancura desta minha paixão enternecida.

Teus últimos beijos, tua voz luminosa e lenitiva...

Teus gestos indigestos, teu sorriso orvalhando brios,

Tantas saudades! Tantas recordações tuas perdidas!

Toco o entardecer e na tua concha escura e apetecida;

Grito teu nome, mas a Morte segue firme como os rios,

E a Tua breve chegada se tornou na mais longa despedida.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 23/04/2021
Reeditado em 23/04/2021
Código do texto: T7239577
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.