O som do silêncio

O SOM DO SILÊNCIO

De repente o mundo inspira

Para um silêncio não desejado.

Que agora mais que um fato se torna fardo,

É tato e corpos afastados.

O som de quase nada ecoa ao vento.

Sem fala

Sem abraços

Sem toque

Sem beijos

Apenas sorrisos

Indeléveis e abstêmios.

Difícil quanto fardo

Logra a peça dos inválidos,

Dos invisíveis da rua

Que estendem as mãos nuas

E só tocam o vazio.

Encontro de olhos descobertos

Secos e tímidos.

Pedintes de um tempo mudo

Quase surdo e avassalador.

Do sentimento finito que chega

Agarrado na desconhecida peste,

Quase nua, trágica e desalmada.

Faz gente dormente que sente

Com silêncio seu orgulho posto à prova

Envolto nessa densa névoa

Onde nada é quase tudo.

E o depois?

Quem vai traduzir o choro e a risada contida?

Dessa esfera de silêncio

Do tempo adormecido

Na dureza enclausurada do dia,

Desse espaço mouco.

Na tradução do silêncio.

Que ensina e alimenta

A esperança, vida e finitude.

Martha Lisboa Belem

Junho de 2020

Poema selecionado para fazer parte da Coletânea de textos

literários – Desenvolvimento e humanidades: além do

isolamento social.