Abri a janela
e os raios dourados entraram
e tornaram tudo colorido e belo.
Abri a porta e o vento sibilando
entoava mantras
desejando boa sorte.
Caminhei com passos tímidos
e inseguros.
Fui até o alpendre.
E, lá um pássaro azul gorjeiava.
Tudo parecia tranquilo e pacato.
Mas, mais adiante...
Alguém agonizava por falta de ar.
Outro, agonizava por falta de alimento.
E, mais outro,
por simples ansiedade e depressão.
O vírus invisível a caçoar dos
sentimentos humanos.
A desatar afetos e laços.
De repente,
o silêncio era privado
de semântica.
E, a metafísica
era carente de fé.
Voltei para meu quarto
Cabisbaixa, mirando os passos
e o bico dos sapatos que já
estavam sujos.
Minhas mãos trêmulas
tentavam esculpir algum gesto.
Talvez, apreender esperança.
Esfregá-la em sinal de alento.
Na solidão dos dedos.
Na dicção das palavras.
E, na poesia inata
esparramada nas paredes.
Nas lembranças e, principalmente,
na morte.
Ninguém escapa da morte.
E, se escapa, envelhece
e se aproxima dela,
lentamente,
como um devaneio nostálgico.
E vem os flashes...
O primeiro baile.
O primeiro mote.
O primeiro beijo.
O primeiro abraço.
E, enfim,
o último remanso.
A certeza que a eternidade
se esconde em pequenos
devaneios.