UM BALÃO AZUL (AOS AMIGOS, IN MEMORIAM)
Eu perguntei a um balão azul
Porque insistia tanto em querer voar
Bem baixinho ele falou,
Não sou eu, mas sim o ar...
Fiquei meio sem entender
Indignado com a resposta
Frustrado, me virei,
E já fui dando as costas...
Ele me chamou novamente
E com paciência me explicou
"Não sou eu que assim desejo
Mas aquele que em mim soprou"...
Ainda sem entender ele fez a analogia
Me explicando com propriedade
Sou apenas um envólucro vazio
Como qualquer outro nessa cidade...
Sabe o que faz diferença em mim?
Com surpresa eu disse "Não"
Então outra vez me respondeu
E me ensinou uma rica lição...
Disse que somos como este balão
Apenas corpos pesados
O que nos torna leves para voar
É o ar, um sopro Sagrado
O balão não tem vontade, se vazio
Assim o ser humano sem expectativa
Para o balão o céu é liberdade
E o ar representa o vigor da vida.
Somos todos balões
Cada um com seu destino
Como balões uns partem em seu tempo
Outros, bem velhos, alguns, pequeninos
Somos balões cheios de motivações
Somos vazios sem sonhos e projetos
Assim como há balões que atingem os céus
Alguns, às vezes não passa dos tetos
Todavia, somos balões,
Com missões
Com fôlego, desígnio
Uns para enfeitar as festas
Outros, para despedir no luto
Cada qual com sua sina
E o que mais me fascina...
Cada um ao seu modo faz sentido
Então se hoje te sentes um balão vazio
Permita-me dizer..
Há um ser Sagrado a plenos pulmões
E tu, mesmo sem dinheiro ou mansões
Pode ser rico dessa riqueza
Se hoje respiras, voas
Se hoje respiras, viva
Pois enquanto balões murcham nas UTis
D'us te deu fôlego de vida
P.S:
Em memória daqueles que partiram vencidos pelo Covid e suas agruras.
Aos amigos, in memoriam,
com reverência e grato temor...
F.Fidelis
Poeta e escritor