A vidraça embaçada
Impede-me de ver a esperança
Não sou mais criança
Aprendi, desaprendendo a brincar
E na brincadeira da corda bamba
Enforquei minha fé
Com paixões ardentes
Entre desejos eminentes
Enfeitiçado, me perdi
Hoje, não reconheço
Do outro lado do espelho
O reflexo mórbido
Escurecido pelo tempo
Enrijecido pela luta
Flagelado pelas paixões
Inútil me foi essa trajetória
Não há nada belo lá fora
Somente gestos mudos
Passos tortuosos
Palavras desgastadas e olhares
Que silenciosamente
Gritam por socorro
Mas quem os ouve?
Aqui dentro
As portas estão trancadas
As cortinas fechadas
E um filme tosco passa na tv
O corpo anda preguiçoso
Pálido e sem ânimo
O olhar caído e frustrado
Revela o fardo de uma alma corrompida
Nós lábios, um suspiro profundo
Sopro de desejo íntimo
Quase sem forças
De recomeçar.