Narcisismo

Narciso receoso pela profundidade do seu superficial

Observo a água sabendo que não deveria ver a mim mesma,

Exterior busca com delicadeza pupilas dilatadas ou algo que decifre quaisquer pensamentos desalinhados

Mergulhar propositalmente no rio seria o mesmo que mergulhar de cabeça na escuridão do misterioso,

Semelhante a segredos oceânicos ocultos de todos

Vejo o reflexo se dividir, outros surgem

Desvio os olhos e quando volto a olhar já há centenas de faces diferentes refletidas

Toco suavemente a superfície da água e tudo se distorce

Mergulhar seria ver a destruição dos rostos

Compreender que reflexos não passam de ilusão momentânea,

que na verdade a suposta ausência deles é o que pesa

Há beleza aqui, mais que beleza

Há caos disfarçado de poesia

Tentativa de compreensão disfarçada de narcisismo

Sentimentos mascarados por mais sentimentos desordenados

Olhos cintilantes refletidos e reflexivos mostram muito além do que se pode ver

Milhares de olhares presos no mesmo reflexo

Mariposa voa em meio às plantas mortas que me rodeiam

Último sinal de vida por perto, ela sussurra tudo que eu não deveria ouvir

Me hipnotizo pelas suas asas, pela sua liberdade extasiante e anseio pelo mesmo

Em minutos estou imersa na imensidão do balanço das águas cristalinas de mim

Chamada pela mariposa, chama ardente de ilusão de compreensão

E a água agora reflete milhares delas mas

a agitação do rio causada pelo mergulho me impede de ver algo além de borrões

Submergida.

Olhos cerrados, estou afundando, buscando a mim mesma em meio a tantos

Narciso que não é narciso