DESAPERCEBIDOS

Nós não percebemos...

Mas a consciência humana perdemos,

Quando a alegria do outro não me apraz,

Quando a vontade reprimida da criança não me desfaz,

Quando a fome na avenida não incomoda mais,

Quando as guerras e feridas não me estupefaz,

E os sonhos de menino já não dão sinais.

Nós não percebemos...

Mas aos poucos morremos,

Quando o objetivo é abandonado,

Quando a nossa calmaria se torna tornado,

Quando o anseio do amanhã é estilhaçado,

Quando a despedida de um amor nos deixa em pedaço,

E os sonhos de menino já não dão sinais.

Nós não percebemos...

Mas também do nada renascemos,

Quando a nossa força mesmo na fraqueza vira teimosia,

Quando o dia tempestuoso vira poesia,

Quando a força da razão rechaça a acrasia,

Quando se equilibra com a emoção e vira sinfonia,

E o sonho do menino agora se refaz.