TIRO
Deixoopensamentodisprado
e sinto o tiro
quando, da boca de cena,
com fraca luz amarelada, quase penumbra,
a atriz diz: dei um TIRO!
Hipnoticamente
percebo a bala saindo
do cano da boca dela, ouço o som: BAM,
mais do que uma onomatopeia,
barulho real de um tiro, zumbindo pelo ar,
passando de raspão pela minha cabeça,
que sorte, penso, sorte que não teve o porteiro,
atingido pelo projétil bala, atirada da boca de cena
pelo cano da boca da atriz quando diz: TIRO!
Nada a ser feito, deixou mulher e filhos,
o homem estava morto, é a nossa catarse!
A nossa atenção dada a um porteiro
pai de família, morto, durou pouco tempo,
o tempo de abrir-se o pano de boca do palco,
entusiasmados de pé, catárticos, aplaudimos o elenco,
que por várias vezes se curvaram,
educados, agradecendo nossos aplausos!
Mas agora, de novo nos voltamos para o real,
o corpo ensanguentado de um porteiro,
morto por um BAM saído do cano da boca
de uma atriz na boca de cena: TIRO!
Além de sujar todo o carpete, atrapalhava
nossa saída, pois seu corpo ficou estirado
nos degraus das escadas que ligam
os lugares de primeira classe do teatro
com as portas de saída!
Disparadoopensamentodeixo!