TIRO

Deixoopensamentodisprado

e sinto o tiro

quando, da boca de cena,

com fraca luz amarelada, quase penumbra,

a atriz diz: dei um TIRO!

Hipnoticamente

percebo a bala saindo

do cano da boca dela, ouço o som: BAM,

mais do que uma onomatopeia,

barulho real de um tiro, zumbindo pelo ar,

passando de raspão pela minha cabeça,

que sorte, penso, sorte que não teve o porteiro,

atingido pelo projétil bala, atirada da boca de cena

pelo cano da boca da atriz quando diz: TIRO!

Nada a ser feito, deixou mulher e filhos,

o homem estava morto, é a nossa catarse!

A nossa atenção dada a um porteiro

pai de família, morto, durou pouco tempo,

o tempo de abrir-se o pano de boca do palco,

entusiasmados de pé, catárticos, aplaudimos o elenco,

que por várias vezes se curvaram,

educados, agradecendo nossos aplausos!

Mas agora, de novo nos voltamos para o real,

o corpo ensanguentado de um porteiro,

morto por um BAM saído do cano da boca

de uma atriz na boca de cena: TIRO!

Além de sujar todo o carpete, atrapalhava

nossa saída, pois seu corpo ficou estirado

nos degraus das escadas que ligam

os lugares de primeira classe do teatro

com as portas de saída!

Disparadoopensamentodeixo!

Antonio Marchetti
Enviado por Antonio Marchetti em 05/04/2021
Código do texto: T7224560
Classificação de conteúdo: seguro