ANDANDO EM CÍRCULOS

ANDANDO EM CÍRCULOS

O que aprendi da vida senão a lição dos homens rudes andando em

círculos.

Como imaginar que o outro lado da margem é limpo,

se me afundo nas águas sujas,

me alimentando do pão de quem estava mais faminto que eu.

Autorizei-me a denunciar a mala volumosa, lépida sob o sono impune

da madrugada, porém, neguei os direitos de quem

perfuma minha roupa, meu paladar e nem ao menos agradeço.

Desejo um mundo melhor, mas no porão de minha mente exclusiva

estacionei o veículo na vaga do cadeirante.

A mão que acena na direção dos interesses sórdidos é a mesma que

aplaude quem assina com tintas de sangue os óbitos do mundo.

Em que lugar de meu espírito acolhe em mim o que de mim não desejo

e me visto de civilidade temperada com o laivo da indignidade em não

devolver o que me foi dado por engano.

Na incessante correria para pegar mais uma flor a compor meu jardim

de artificialidades, não vi seu olhar assustado, preso em sua angústia

veloz e desassistida.

Sou igual a tantos que vê grandeza em seus atos escusos e cobra

polidez do vizinho, no entanto se abriga no guarda-chuva furado da

moralidade sem pecado.

Como posso ser digno do oxigênio puro das árvores que ajudo a

derrubar.

Nesses crimes que cometi e omiti, aumentei a injustiça crônica da

desigualdade e me enterrei no mesmo caixão que a vítima.

Estou cheio de banhar-me no poço infecto dos homens limpos e apontar

o mesmo dedo torto para o porto seguro dos meus privilégios.

Não quero mais derramar lágrimas que não são minhas.

Sou do mesmo barro, areia, cimento, bebo da mesma água impura que

engessa a evolução.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 27/03/2021
Código do texto: T7216886
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