CANTO AS PROSTITUTAS

Sinto-me paralisado,

os movimentos petrificados

como se tivesse olhado

diretamente para a face sedutora

de Medusa,

só o pensamento se move,

de onde vim

quando do meu nascimento

era o nada,

e a certeza da morte,

próximo passo da caminhada,

ao nada me retornará,

nem paraíso ou inferno

nem o ideal mundo platônico,

o nada, nunca pensado

conformado com a inexistência,

petrificado

como estátua de um herói pátrio,

como se a pátria

tivesse tido uma história real

e não este conto de fadas

chamada de história oficial,

não desvio o olhar da deusa

admirando fascinado o rosto,

os cabelos de serpentes,

sedutora deusa Medusa

e a sinto, sem pudores,

maliciosa prostituta excitante

vagando nas ruas vagabundas

da cidade, deusa musa

que me deixa sem movimento

num êxtase estático, petrificado,

como o sifilítico filósofo

com o gozo mortífero correndo

pelas artérias sanguinárias,

mesmo sangue alucinado do pintor

cortando a orelha em sua homenagem,

me seduza

com a beleza que é só das prostitutas,

em miragem te contemplo, deusa Vênus,

e quando em seus braços,

alisando seus cabelos serpenteados,

me revelas Medusa!

Antonio Marchetti
Enviado por Antonio Marchetti em 05/03/2021
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