CANTO AS PROSTITUTAS
Sinto-me paralisado,
os movimentos petrificados
como se tivesse olhado
diretamente para a face sedutora
de Medusa,
só o pensamento se move,
de onde vim
quando do meu nascimento
era o nada,
e a certeza da morte,
próximo passo da caminhada,
ao nada me retornará,
nem paraíso ou inferno
nem o ideal mundo platônico,
o nada, nunca pensado
conformado com a inexistência,
petrificado
como estátua de um herói pátrio,
como se a pátria
tivesse tido uma história real
e não este conto de fadas
chamada de história oficial,
não desvio o olhar da deusa
admirando fascinado o rosto,
os cabelos de serpentes,
sedutora deusa Medusa
e a sinto, sem pudores,
maliciosa prostituta excitante
vagando nas ruas vagabundas
da cidade, deusa musa
que me deixa sem movimento
num êxtase estático, petrificado,
como o sifilítico filósofo
com o gozo mortífero correndo
pelas artérias sanguinárias,
mesmo sangue alucinado do pintor
cortando a orelha em sua homenagem,
me seduza
com a beleza que é só das prostitutas,
em miragem te contemplo, deusa Vênus,
e quando em seus braços,
alisando seus cabelos serpenteados,
me revelas Medusa!