MIL NOVECENTOS E CINQUENTA E QUATRO

No dia vinte e dois de outubro

de mil novecentos e cinquenta e quatro

(a três anos do meu nascimento)

aqui em São Paulo, exploradora de mais valia,

morria um poeta, ex-comunista, irreverente,

tão irreverente, que não ficou preso na malha stalinista,

ironizou com sarcasmo, elegância e genialidade

o capitalismo, a esquerda, a pátria, religião e família,

ridicularizou Nina Rodrigues e as teorias eugenistas,

enaltecia o europeu, o índio e o africano,

brasileiro verdadeiro era o povo miscigenado,

deixava isto claro em sua poesia, prosa, texto teatral,

não só a mistura racial, o brasileiro é um mestiço cultural!

Visionário como são os poetas, não há como negar,

afirmava isso, antes de Watson e Crick revelarem o DNA!

Fazia apologia do matriarcado e da antropofagia,

depuraria a cultura humana da cultura industrial,

antiestética, de consumo, supérflua, pode ignorar!

No dia vinte e dois de outubro

de mil novecentos e cinquenta e quatro

morreu um poeta!

São Paulo não parou, não fez alarde,

ocupada na exploração do trabalho alheio

e, por fim, qual a relevância do fato?

O poeta morto era só Oswald de Andrade!

Antonio Marchetti
Enviado por Antonio Marchetti em 27/02/2021
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