NÃO SE VARRE A LÍNGUA DO FOGO
Varre o pucumã da cumeeira,
poeira da sala e do quarto,
varre as cinzas da varanda
ou a fuligem da cidade.
Tange as galinhas
da porta da cozinha,
limpa as folhas do terreiro.
Espanta as visitas
quando fica atrás da porta
de ponta-cabeça.
Quando estamos cheios
de inveja ou de rancor
e a maldade nos domina,
montamos nela
e damos uma voltinha
por aí.
Às vezes com jeitinho,
empurra-se a sujeira
para debaixo do tapete.
Mesmo quando ausente,
sente o poeta a sua presença.
“A chuva é uma vassoura fina
varrendo por cima dos telhados”*
Mas a vida que é chama
que arde e se consome,
cospe desejos e poder...
não se varre, não.
A vida é fogo
que não se esconde,
é labareda
que não se amansa,
é escuridão e sol,
raios e trovões.
(* Estrofe do poema INSÔNIA, do grande poeta baiano Adelmo Oliveira. Livro espelho das