TESTAMENTO
Não quero ser lembrado,
dispenso honrarias e fama
por heroísmo ou escrito literário,
escrevo por escrever, para mim mesmo,
não sou parnasiano, romântico,
poeta concreta ou modernista,
sou o que sou, o que consegui ser
trazido a existência pela minha mãe
seguindo a regra da patriarcal sociedade!
Não sou ou serei mártir de causas
que nunca, por mais decantadas,
trouxeram ao mundo a não ser
o american way of live e suas gurras,
os campos de concentração nazistas
e stalinistas, mundo socialista tão sonhado!
Sou da multidão e nela me refugio
anônimo em minha solidão!
Dos poetas, sou o menor dos menores,
daqueles que nem os amigos leem,
não são poesias para a eternidade,
nem mesmo antologias,
duram o tempo da minha escrita!
Não sonho com busto em praça pública
onde os pombos cagam a bel prazer,
muito menos imagem de santo em paróquia
cumprindo promessas de fiéis desesperados,
não gosto dos desesperados, ainda mais fiéis!
Não desejo meu nome em escola pública,
muito menos numa rua qualquer,
a geografia da cidade ideologicamente
formam almas, tranquilas almas cidadãs!
Nossa, só de pensar que o GPS de um Uber
diz ao condutor que pegando a rua Marchetti,
estará próximo ao seu destino, a Avenida
General Emílio Garrastazzu Médice,
grande herói brasileiro, me deixa assustado!
Para evitar constrangimentos, no meu testamento
deixo bem claro aos meus herdeiros,
que espero, respeitem o meu querer, depois de morto,
que se alguém, por falta do que fazer na câmara
municipal, estadual ou mesmo federal,
seja vereador, deputado ou mesmo o Papa,
se lembrarem de mim por um idiota qualquer,
que meus filhos, netos, noras e genros,
um amigo leal, leiam meu último pedido
imediatamente, sem perda de tempo,
quero, e quero muito, ser de todo esquecido!