Versos Pandêmicos
O momento exige vigorosas flores,
Nos buracos dos asfaltos,
Nas rachaduras das paredes,
Nas ruínas, que só habitam as pedras.
Espelhos rachados corroí as cores.
Forja o que vemos em percalços.
Enche de sal um copo de sede.
Reflete a sombra da luz em queda.
Tantos teatros de maus atores.
Que desabem imundos palcos!
Vaio a cena das mãos de foguete.
Aplaudo o alvo sem veneno na seta.
O momento exige favores.
Onde há doença existe um laudo.
Talvez no uso de um óculos com outra lente,
No flerte das dores, o outro enxerga.
Afinal, em que mundo se percebe as dores?
Discutir o que sinto me torna incauto.
Se me deito na cama doente,
Curo-me em sonhos, pra viver o que presta
Esse mundo de tantos caçadores...
Vive-se em soluços e sobressaltos.
Digerir pedras, no coração cria dentes.
Quero música e não um som de alerta.
Nas sombras, não se vê vencedores.
Nessa tempestade em mar alto,
Descer a âncora com seu braço de corrente,
É se afogar no oceano de palavras desertas
Pisar nos espinhos é lutar para colher flores.
O caminhar se faz com pés descalços.
Fortaleço, agora, os vãos com ramalhetes
O muro, cravado de tiros, pariu janelas