DEVIDAMENTE ISOLADO
Desde o ventre, desde o berço, desde a tenra infância
Eu sempre fui obcecado pelo isolamento completo e absoluto
Distante da cidade, do campo, das ilhas povoadas, apenas distância
Sobrevivendo aos ilhéus, às terras inabitadas, às casinhas escondidas entre as montanhas no viaduto
No meio de um inóspito deserto gelado, na perfeita aliança
Entre o homem e o nada, o vazio, o beco, o escuro, o luto
Ao enlouquecedor silêncio vazio, insistente, assombrado
Me escondo na penumbra do meu doce desejo
De trocar as interações sociais do ar povoado
Pelo isolamento total numa pequena ilha no meio do Atlântico, onde velejo
Onde corro, onde grito, onde ninguém estará e eu estarei, devidamente isolado
Onde estão as árvores, o mar, o céu, o chão, minha casa e isso é tudo o que vejo
E entre enormes montanhas escondidas por árvores, eu compro o meu terreno
Na inexistência de uma conversa, eu sento em um sofá pequeno
E sorrio ao lembrar o quanto eu almejava viver naquele extremo
Passeio de bicicleta na mórbida solidão silenciosa, no sereno
Ouço apenas meus passos e minha voz, grito por alguém porque eu não temo
Que alguém responderá, além do eco, que me esconde eternamente nesse doce veneno
E quanto mais tarde me procurar a vontade de calor que um humano traz
Mais escolherei o lugar mais solitário imaginável
Não entendo essa obsessão, não possuo nenhum trauma capaz
De me fazer se isolar e nem sou tão mentalmente instável
Um bicho de estimação no caminho poderia tirar a minha paz
Porque eu tenho necessidade iminente de estar só em uma solidão estável
Pode ser o reflexo de nunca ter me conhecido por completo
Sempre estiveram em cima de mim sem me dar nenhum espaço pra respirar
E agora necessito de auto-reflexão em um lugar quieto
Com o doce barulho do absolutamente nada para me conhecer e pensar
Uma casa abandonada na montanha no meio do incerto
É exatamente lá onde o meu coração está
É assim que viverei, longe de tudo isso
Olharei os dias passarem, curtirei seu fim e seu início
Não se preocupem com o meu sumiço
Nem me procurem, quando eu quiser eu sairei disso
Se não derreter entre a paz e tranquilidade sem deixar nenhum indício
Senão, fugirei para sempre atrás de mim e não encontrarão de mim resquício
Preso entre a liberdade perfeita e à nossa única companheira
À solidão que nos define como seres individuais nesse mundo
De certo não estarei só pela vida inteira
Tenho meus poucos laços profundos
O que pode significar uma vida solitária passageira
Ou um silêncio de quilométricos segundos
É algo que tenho comigo
O que sei é que não sei explicar
Só sei que se esse obsessivo desejo me for incendido
Eu ansearei pelo vazio, pelo nada à declarar
Fugirei desesperadamente para o labirinto infindável de um mundo perdido
E eternamente nada nem ninguém, em hipótese alguma, me encontrará
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