Beleza comprada

Eu compro a beleza da pele,

Dos lábios grossos, dos cabelos lisos.

Eu pago caro pelo tecido fino,

Pelas botas de couro

Pelo ouro, pelo domínio.

Vendem-me beleza

Eu a compro em pílulas e cremes mágicos

Eu compro a maçã do amor

E até pelo amor eu pago.

Vendem-me o biquíni, o jeans

Vendem-me a pose, a foto

Só não me vendem ideias

Nem de ideias eu gosto.

Eu compro a moça bonita

E a malha de ginástica dela

Eu compro as unhas enormes

Os cílios falsos, a massagem

Enderma.

Me mato pelo botox

Pela beleza esticada do tempo

Tempo tão curto quanto meu couro

Tão caro quanto meu cabelo louro.

Eu compro beleza, você não compra?

Compra também.

Não há quem não compre beleza

Há sempre algo que não está bem.

Me vendem beleza na ponta dos dedos

Eu compro no crédito

Em parcelas miúdas e eternas

Ou compro e não pago

Por todas elas.

Só acredito em beleza comprada

Não aprecio a beleza pronta

Ela não existe sem maquiagem

Esqueci como é ser bonita pelo lado de dentro.

Todas as telas me vendem beleza

E eu, besta, de quatro

Deixo que me metam

E me metem beleza injetada nas tetas, nádegas e até na rima.

Flor do mato não serve, rústica demais!

Eu pago ao florista para que me agrade

Com flores mortas, de plástico

Dos funerais.

Falando nisso, todo mundo morre

A beleza acaba, a feiúra aumenta

Os vermes comem o silicone

Ou não comem, indigesto (!) - pensam.

Eu comprei toda beleza,

Mas não fiquei com ela

Gastei tempo, caprichos, fortuna.

Morri! Sacanearam comigo!

Morte é coisa gatuna!

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 11/01/2021
Reeditado em 11/01/2021
Código do texto: T7157403
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