Pareidolia
Na parede desgastada
Castigada pelos anos
Eu vejo rostos decanos
Longas barbas encardidas
Talvez venham de outras vidas
Manifestar-se nos traços
Depreciados escassos
Das imagens transcrevidas
Vejo rebanhos nas nuvens
Pastando num céu cinzento
Que ao compasso do vento
Esboroam-se em segundos
Seriam eles oriundos
Da fértil imaginação
Que me surge sem razão
Ou algo bem mais profundo
Pelo tapete da sala
Heróis de capa e espada
Que num piscar viram fadas
Canídeos, marsupiais
Tantos outros animais
Seres de mundos distantes
Que somem nas inconstantes
Viagens condicionais
Vi no piso do banheiro
A virgem com o seu filho
A percorrer os ladrilhos
Num reflexo de luz
Figura que me conduz
Por um plano vertical
Em breve ascensão mental
Lembrando o cristo na cruz
Vejo tudo em toda parte
Em abstratas figuras
Muito além das molduras
Que os olhos podem enxergar
Não apenas compilar
As cenas triviais do dia
Mas a ampla pareidolia
Que a mente pode criar