O Tempo
O Tempo sempre é e estiola toda essa incrível beleza,
Estiola a paixão, seca a visão, murcha as palavras.
O Tempo acede todas as formas e coisas da natureza,
Fenecendo jornais, manhãs, risos, cafés e velhas mágoas,
Como as duras areias ancestrais no seio das fúnebres águas.
Até as raízes o Tempo sangra a nossa efemeridade,
Enterra os abraços, os cansaços e as lembranças.
O Tempo destroça estações, vagões e felicidades,
(As mãos tão vazias com os olhos cheios de vinganças)
Como os brinquedos quebrados daquela triste criança.
Assim todas as coisas trespassa o Tempo impiedosamente,
Velhas amizades, novos apaixonados em antigas guerras.
O Tempo esfola os vestígios de quem fomos inteiramente,
As faces e as mãos tão murchas nas pálidas tardes decertas,
E todos os nossos destinos, sonhos e espíritos desfolhados
A apodrecerem nos roçados cotiados destas metafísicas terras.