O Tempo

O Tempo sempre é e estiola toda essa incrível beleza,

Estiola a paixão, seca a visão, murcha as palavras.

O Tempo acede todas as formas e coisas da natureza,

Fenecendo jornais, manhãs, risos, cafés e velhas mágoas,

Como as duras areias ancestrais no seio das fúnebres águas.

Até as raízes o Tempo sangra a nossa efemeridade,

Enterra os abraços, os cansaços e as lembranças.

O Tempo destroça estações, vagões e felicidades,

(As mãos tão vazias com os olhos cheios de vinganças)

Como os brinquedos quebrados daquela triste criança.

Assim todas as coisas trespassa o Tempo impiedosamente,

Velhas amizades, novos apaixonados em antigas guerras.

O Tempo esfola os vestígios de quem fomos inteiramente,

As faces e as mãos tão murchas nas pálidas tardes decertas,

E todos os nossos destinos, sonhos e espíritos desfolhados

A apodrecerem nos roçados cotiados destas metafísicas terras.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 16/12/2020
Reeditado em 17/12/2020
Código do texto: T7137312
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