BALAGAN
Tensão!
O poeta cobre o rosto
com máscaras dionisíacas
e numa explosão vulcânica,
possesso de corpo e alma
escarra versos de sangue,
lavas incandescentes
incensos de mirra
purificando sem cerimônias
os odores acre, apodrecido,
apagando velas que iluminam
caminho para almas penadas,
adulterando os significados,
desalicerçando os sentidos
do profano e do sagrado,
do silêncio e do gritado,
e só letrando a música
transforma a procissão
num teatro balagan,
cheio de colombinas
lotada de pierrôs pálidos
de pernas longas,
e milhares, milhões
de arlequins canalhas,
indecentes e vagabundos
contando piadas e dando cambalhotas,
no meio do coro das beatas
e dos beatos homens santos,
desfigurando a configuração
do belo da estética oficial!
E o poeta troca as máscaras
dionisíacas máscaras das bacantes,
e como ator de teatro de feira
encena, atua como Tartufo
promíscuo, descrente, cínico, hipócrita,
a máscara dos pesadelos
que como num espelho,
logo se reconhecem
os confessos homens honrados,
e por isso, a tensão,
descobertos,
lançam o poeta palhaço
no fogo da moderna inquisição
e o poeta se liquidifica, pois sabe,
que enquanto escorre pelo chão
a menina quando dorme
põe a mão no coração!
(Pensando em Molière, dramaturgo francês bastante criticado e perseguido pela nobreza e o clero em 1664 por conta de sua peça "TARTUFO OU O IMPOSTOR", com severas críticas sociais e em Meyerhold, ator e diretor russo assassinado em 2/2/1940, pelo regime Stalinista)