LABIRINTO
Perdi-me dentro de mim.
Como Sá-Carneiro,
Perdi-me dentro de mim
Porque sou labirinto.
Mas, ao contrário do poeta de “Dispersão”,
Hoje, quando me sinto,
É sem saudade alguma de mim.
Perdi-me no labirinto de mim mesmo
E espero nunca mais topar comigo.
Perdi-me no labirinto de mim mesmo
E fujo de mim como um jovem ateniense
Fugiria do Minotauro no labirinto de Creta.
Como Sá de Miranda,
Comigo me desavim
E fui posto em todo perigo.
Também não posso viver comigo
E não sei se consigo fugir de mim.
Eu sou muitos.
Se Mário de Andrade era trezentos,
Era trezentos e cinquenta,
Eu sou mais, muito mais
Que mil e cinquenta
E espero jamais de novo me encontrar comigo
Nesta legião de homens que sou,
E espero nunca mais dar de cara comigo
Num corredor qualquer do labirinto de mim mesmo.
Lá fora a névoa cobre as montanhas
E os pinheirais da Mantiqueira
E, como um manto de arminho,
Desce sobre o caminho
Que me leva ao Largo da Matriz
De São Bento do Sapucaí.
O mar de névoa estuante de melancolia
Invadiu o labirinto de ruas estreitas
E velhas casas coloniais de São Bento,
Como também invadiu o meu labirinto interior
E como invadiu um dia
O verde labirinto do Parque Amantikir,
Nos Campos do Jordão,
Quando eu o atravessava em sonho.
Perdi-me dentro de mim
Porque sou labirinto,
Mas hoje, quando me sinto,
É sem saudade alguma de mim.
Perdi-me no labirinto de mim mesmo
E espero nunca, nunca mais topar comigo.
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
São Bento do Sapucaí, 15 de julho de 2015.