FEIURA DE QUEM COBIÇA A FORTUNA ALHEIA

ESTA É A HISTÓRIA DE LÊ PATINE DE LÊ PANTONE:

MANCO, VESGO, BASTANTE FEIO, QUE DE REPENTE FICOU RICO AO GANHAR NA LOTERIA FEDERAL

EM 1985, NA CIDADE DE ITABUNA -BA .

-- Doutor, se visses

Minha vista torta,

Eu manco ao abrir a porta,

Que farias,

Tão letrado,

Tão enfronhado,

No teu viver de ostentação

De caros bens

Que o dinheiro compra,

Se no vão da porta,

Reparasses que ao invés

De pobreza,

Encontrarias a opulência

Da riqueza

Que abre portas,

Franqueia lugares

Em suntuosas mesas?

Decerto, nao me bateriasí

Na cara porta!

A pão de ló, me tratarias!

-- Excelência, se doutra quadra,

Vislumbra em mim,

Um moço belo e garboso,

Entretanto, pobre,

De gestos e atitudes temerosos,

0lhar nervoso

À presença tua, ao defrontares

Em mim, o pobretão,

Cuja única riqueza

Que possui é a própria vida ,

E a honra, o seu bem maior

Que nao troca

Por tesouro nenhum!

Que farias, então,

Arrogante e esnobe?

Fecharias na minha

Cara, a porta!

Deus me fez,

Repentinamente rico,

Poderoso, ao sortilégio

Da sorte,

Na roda da fortuna

Que sorriu pra mim,

Embora sinta, nos olhares

Em mim pousados,

As pessoas fitar-me ,

Mal disfarçando

O horror que sentem,

Ao deplorarem

Meus defeitos físicos ,

Ainda assim,

Me bajulam

Por meu dinheiro,

E fingem nao repararem

Meu olhar vesgo,

Minhas pernas tortas,

Disfarçam hipocritamente

O desprezo

Que por mim nutrem,

Graças à fortuna

Que a mim veio,

Como recompensa

À minha feiura,

Menos feia,

Todavia, à feiiura

De quem cobiça

A fortuna alheia!