Despedida

Despedida

Entre o penhasco e a floresta,

subo o íngreme monte pejado

de flores silvestres matizadas.

E nas trilhas ladeadas de giesta,

arfa-me erróneo o peito cansado

na teimosia destas caminhadas.

E, no penhasco, estaco atento

ao feroz fragor do mar na fraga,

ao piar das gaivotas esvoaçando.

E as ondas em renovado alento,

num vai-vem de perdida saga,

de laivos de espuma, chorando.

E o sol se refugia no ocaso fusco,

doando seu reino à noite estrelada,

que avança lenta, húmida e fria.

E eu, hirto, com meu olhar busco,

entender esta fusão tão arrimada

e perco-me na ilusão falsa de acalmia.

Do meu corpo dolente, se esvai a vida,

e, só, por última vontade, me despeço

sem regatear paixões frívolas de outrora.

Amores foram ilusões de gente sofrida;

nada mais desejo, nem poemas ofereço,

fim - aqui me quedo - chegou a minha hora!

João Loureiro (Poeta sem Alma)

Poeta sem Alma
Enviado por Poeta sem Alma em 14/11/2020
Código do texto: T7111356
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