Despedida
Despedida
Entre o penhasco e a floresta,
subo o íngreme monte pejado
de flores silvestres matizadas.
E nas trilhas ladeadas de giesta,
arfa-me erróneo o peito cansado
na teimosia destas caminhadas.
E, no penhasco, estaco atento
ao feroz fragor do mar na fraga,
ao piar das gaivotas esvoaçando.
E as ondas em renovado alento,
num vai-vem de perdida saga,
de laivos de espuma, chorando.
E o sol se refugia no ocaso fusco,
doando seu reino à noite estrelada,
que avança lenta, húmida e fria.
E eu, hirto, com meu olhar busco,
entender esta fusão tão arrimada
e perco-me na ilusão falsa de acalmia.
Do meu corpo dolente, se esvai a vida,
e, só, por última vontade, me despeço
sem regatear paixões frívolas de outrora.
Amores foram ilusões de gente sofrida;
nada mais desejo, nem poemas ofereço,
fim - aqui me quedo - chegou a minha hora!
João Loureiro (Poeta sem Alma)