ELE VIU-SE, ENFIM...
Paralisado, ele tornou-se espectador,
Seu eu levantou-se e saiu,
Olhou para si próprio, e sorriu.
E da maca, ele podia ver-se, sem dor.
Acompanhou seus próprios passos,
Um tempo de horror!
Deitado ali, não tinha controle algum,
Sobre si mesmo e nada podia fazer,
A não ser,
Assistir o seu eu, em alto zoom.
Reações que jamais imaginou,
Palavras que nem se lembrava,
Que um dia falou.
Um ser petulante, ele olhava.
Então pensava: que absurdo!
Nunca pude perceber que eu sou assim...
A consciência me chama e eu me faço de surdo.
E exclamava: o que fiz de mim!
Assistiu-se de camarote
E horrorizado de si
Quis sair dali
E murmurou: preciso mudar,
Antes que meu próprio eu me derrote.
Discriminador, agressor, ignorante.
Insensível, insuportável e petulante;
Assim me vi naquele instante
E tive vergonha de mim.
Ele pensou!
Ênio Azevedo