A fome
A maioria de nós não tem fome,
Tem apetite, nada mais.
O faminto há muito não come
Sua vontade é voraz.
A fome entorpece,
Alucina,
Muda a personalidade.
O faminto desvanece,
Desanima,
Perde a identidade.
Quem tem fome perde a noção
Esquece a cidadania,
Torna-se irracional.
Já não sabe o que é emoção,
As decisões são frias,
Age como animal.
O verdadeiro faminto não tem religião,
Nem abrigo, nem nação,
Família ou ideologia.
Não tem passado, nem futuro,
O pensamento é obscuro,
Desconhece a alegria.
A miséria é aliada da fome,
É uma fatal realidade,
Consequência da opressão.
Quando a empatia some,
E portanto, a humanidade,
Quem estenderá a mão?
Por causa dos poderosos,
E dos que aspiram o poder,
Os famintos são numerosos,
E não sabem a quem recorrer.
A quem se aplica o que foi dito?
Não é só ao pobre e coitado
Mas também ao poderosos.
Eles são ávidos e malditos,
Insaciáveis, sendo abastados
Cometem atos inescrupulosos.
O maior dos famintos é o rico injusto
Pois a todos devora sem ressentimentos,
Por dentro oco, por fora robusto,
Externos perfumes, internos excrementos.