Veneno
Cadeias nos fecham as bocas
Chaves nos trancam os ouvidos
Nem nossas ideias ditas loucas
Nem nossos sólidos argumentos são lidos
E nesse mundo pragmático
Que me deixem falar e ser enfático
Que minhas ideias revolucionem o mundo
Mas, se cegos, como modificar em nós esse conjunto?
Grite! Que grite em volume o nosso silêncio, agora
Verbalize e escandalize, pois é a vida que chora
Concreto o dialeto, do âmago tire o seu pudor
Que o ser, antes humano, possa expressar-se em fervor
Que semente crescerá se a luz não a tocar?
Deixe fermentar, que não te privem de falar
É desalento envenenar-se assim
Com a ideia a fechar-se, enfim
Toquemos no cume do monte
Que se faça brotar a fonte
Mas, por hora, guardado em mim está
O que um dia se libertará
Minha palavra, ideia e voz
Se ouvirá de forma feroz
Cale a minha boca, insolente!
Mas não poderás calar a minha mente.