Sinto fome

Sinto fome

que não passa,

que é inerte

mas é brasa.

Sinto fome

que não some,

que não come,

que não vasa.

Sinto fome

de vida sem medo de morte,

de tudo ser mais do que sorte,

de mim.

A solidão dos muros,

imensidão de olhares;

só se vê ao longe,

o que era perto, decerto foi embora.

E as mensagens geladas

que insistem em chegar de madrugada,

onde as redes não são mais redes,

onde abraços são só paredes.

E são silentes à vida,

não são presentes ao tempo,

como nem tudo é o tudo

que a gente quis ser pra sempre.

Minha fome é de escrever uma carta de amor,

mas acho que os correios não levam sentimentos,

é deveras pesado,

foi-se o tempo.

Então não vou mais ter saudade,

nos tempos de agora

saudade é história,

só se acha no Google.

Minha fome agora

vai ser aquela fome que passa

no primeiro lançamento da Apple,

deve ser fome de iphone.