CHUVA CHOROSA

O céu escuro guarnece a tempestade

Que se forma num tácito sussurrar cinzento

Onde as nuvens pesadamente se aglomeram

Num deslizar quase imperceptível

Os pássaros cantam

Voando de um lado para o outro

Buscando encontrar abrigo

Nas árvores alheias aos passos do vento

Tudo parece normal

O vai e vem da corrente sanguínea

Segue o fluxo

Inerte

Absorto à intempérie sobre as suas têmporas

Mas por um curto espaço tempo

Só até o primeiro pingo d'água

Tocar a pele nua

Dos seus olhos ensurdecidos

E então

Agitação total!

A preocupação é tão supérflua

Quanto banal

Cada umbigo com o seu próprio dono

Numa busca insana

Pelo ponto mais alto do ego

Desgrenhando-se uns aos outros

Por um espaço maior sob a marquise

O céu chora!

— Ainda há um resquício de esperança para humanidade?

Indaga o sol

Entre as cortinas de pesadas nuvens

Que gentilmente choram

Regando o solo infértil

Das epidermis envaidecidas

Com o seu próprio desamor

— Ainda há!

Responde a chuva

Chorosa em seu tilintar.

— Ainda há!

21/05/2020

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 31/08/2020
Reeditado em 05/04/2021
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