PRAZERES IMORAIS
Há dias em que sou mais eu do que “sempre”
Porque “nunca” é um lugar que não existe
E só me perco dentro de mim.
Comprazo-me na inveja de olhares mortificados
Deleito-me na cobiça de olhares maliciosos
E meu olhar se perde na necessidade de me encontrar.
Liberto meus vazios,
Espalho-me nos semblantes opacos de rostos vazios
E regozijo minha alma na ansiedade de quem não vive.
Triste retrato de uma sociedade que é infeliz com as conquistas e a felicidade alheia.
Os buracos negros da existência humana
Cavam-se nas atitudes mesquinhas de mentes manipuladoras
Que autodestroem e contaminam quem as rodeia.
Jogos de poder, nos quais o vencedor é derrotado
Pela doce e ilusória hipocrisia de estar vestido
Com a maravilhosa “roupa nova do rei”.
Retrato triste para quem o espelho da alma estilhaçou-se e não consegue juntar os cacos.
Poema publicado no livro "Não diga que a poesia está perdida"(2016)
Cleusa Piovesan
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