Dose de consciência
Uma dose de consciência! (16:03)
Garçom, me traz um copo cheio de hedonismo. Porque, hoje eu quero embriagar a minha intempestiva juventude.
Junto aos meus, desfrutar da solidão acompanhada que festeja nossas noites. Gargalhar escandalosamente, até que a tristeza se convença que é alegria, e que as lágrimas secretas virem açude.
Um brinde a essa noite, a nós, e a nossa eterna juvenilidade.
Garçom, me traz mais um copo de prazer, para que eu o beba até a última gota, enquanto o sol não nos furta o milésimo segundo de curtição.
Pouco a pouco, a diversão vai se esvaindo de meus amigos, e um a um da mesa vão se indo, deixando sozinha a minha solidão.
De repente, me vejo na companhia dos copos vazios, memória de uma exaustiva celebração juvenil.
Já são 03:03 da madruga, mas eu me recuso a ir embora, só saio daqui se for expulsa, sou jovem e quero aproveitar a minha eterna mocidade.
Entre uma música e outra pisco os olhos, e percebo um cara na minha mesa. Engraçado eu não lembrar dele, pois conheço todo mundo que vem aqui, e ele eu nunca vi.
Diferente dos outros, não quer a tradicional dose prazerosa que embriaga a noite, seu copo está cheio de água. Estranhamente,não ri como nós, sua felicidade parece real. Seus assuntos não envolvem consumo, vantagens, ou nada parecido. Seus olhos são estranhos, são reluzentes de paz.
Em um dado momento, puxa a cadeira do meu lado, senta e puxa da alma uma conversa que jamais tinha ouvido.
Forver young do Alphaville embala o nosso momento, servindo como o ponto de partida da nossa derradeira prosa.
Serenamente, me olha no fundo da iris, e me diz que os diamantes até são eternos, mas nós não. O tempo de nossa vida se esvai feito areia nas mãos, e a juventude como tudo na vida se finda enfim. Somos feito poeira ao vento, um dia somos/estamos, outro dia não mais. Assim se dá a nossa fugaz existência. Me diz também, que a vida é muito mais que a minha farra pueril, e que toda a fortuna que eu venho gastando jamais comprará o prazer pleno que todas as noites ali e em tudo eu busco.
Depois disso, ele se levanta, paga nossa conta, e se vai porta à fora. Não consigo saber por onde foi, ele anda depressa demais.
Garçom, por favor, me serve a última dose, mas agora de consciência, com cubinhos de reflexão, vou tomar só mais essa, e juro que vou embora.
Engulo apressadamente gole a gole do meu postimeiro copo. Abandono na mesa, meus braceletes, meu Loubotin*, deixo aqui mesmo toda minha aparente fortuna, corro, descalça, desapegada, desesperada em busca da fortuna que aquele sensato moço me falou.