Retalhos Novos
A distopia se assenhorou de tudo,
da intimidade e da tecnologia,
do velho ponto G ao 5 G puro:
dos nossos desejos e fantasias.
Abriu-se a tampa de um baú proibido
e fantasmas vieram de um futuro
sem alarido.
E junto com eles, a pandemia.
O mais do mesmo em dose absurda:
A turba seguia de vento em popa,
olho fixo no celular, mas surda.
Mas teve uma tal desaceleração
como se caísse uma mosca na sopa,
consternação!
Na verdade ninguém se preparou,
cochilava em sua zona de conforto,
desacostumado com mudanças,
achava-se vivo mas parecia morto:
o mundo sucumbiu ao inesperado,
velhos, adultos, jovens e crianças,
despreparados.
A pandemia não faz privilégio,
Súbito, não havia o mais esperto.
Toda calma foi pouca nessa hora,
ninguém mais sabia o que era certo.
Por descuido ou própria decisão
Podia ir-se já deste mundo, agora,
num escorregão.
Ela veio por certo dar-me update,
Um tapa na cara ou sacudidela:
Devo procurar por novos atalhos;
redescobrir a beleza, contar as estrelas
e perder-me por pura afinidade...
... juntando-me à colcha de retalhos
da humanidade!
Já fiz a lição de casa completa,
tenho uma nova máscara por ora,
e a meta eu carrego na mente,
já não é mais aquela de outrora.
Ainda alimento um sonho imenso.
Agora vou devagar, lentamente,
no maior bom senso.
O país está tão cinza por certo,
uma bela sucursal de incertezas,
mas na imaginação, um frio intenso
faz-me buscar um pouco de beleza,
bem longe, na borda do rio da infância
e na paisagem de um deserto denso,
quanta distância...
No fundo da memória vejo a chave!
Volto a ouvir minha criança interior
além da nevoa de dúvida e medo,
ainda existe uma saída no amor.
O ponto de poder está bem aqui
no presente, no sorrir logo cedo,
no repartir.
Quero dizer que o futuro é aqui agora,
Se o adversário quer nos confundir,
tudo o que aprendemos já é passado.
Sem confronto, NÓS vamos resistir.
É preciso ouvir os sinais do centro.
A fé ainda manda, ouçamos o recado,
que vem de dentro!
Expedito Gonçalves Dias (Profex)
Varginha/06/08/2020