Canção de país longínquo
Canção de país longínquo
“cantava, em uma voz muito suave,
uma canção de país longínquo.
a música tornava familiares as palavras incógnitas.
parecia o fado para a alma,
mas não tinha com ele semelhança alguma.”
Bernardo Soares
uma canção, um eco lamurioso
um país distante, ali, mesmo ali, à distância de uma porta
à distância de um abraço, nessa incógnita final
nada é, para protecção de todos…
parecia o fado para a alma, esse sofrer de vitória
entre derrotas individuais, sem esperança no amanhã
a nação erguida pela vitoria colectiva…
o ruído da cidade não se ouvia
não se escutava, apenas se sentia
um murmúrio, “vai ficar tudo bem”
e o bem não é de ninguém…
gemem a reclusão do tempo
para protecção da vida
que corre na esperança
de quem trabalha
e caminha pelas ruas vazias…
amanhã erguer-se-á a voz
em novos fados, canção de país longínquo
à distancia de uma porta, de um abraço…
Alberto Cuddel
25/03/2020
03:03
In: Nova poesia de um poeta velho