A súplica de um poeta
 
Porque não tentar tocar um sentimento
Rabiscar emoções, desfilar entre artigos
Porque não tentar conectar o desconectado
E de repente ser responsabilizado por criar

Porque não fazer sorrisos, inventar risadas, provocar comichões
Porque não fazer fogueiras pra em volta delas recitar, cantar, falar
Porque não fazer errado? E depois apagar, rabiscar, engavetar
E um dia ser surpreendido pela beleza outrora oculta

Porque não revolucionar as mentes neófitas para juntar-se a nossa num coro do bem
Porque não correr o risco de chocar as arcaicas, talvez por parábolas
Ou confundir ditaduras com versos consoantes em dissonâncias sustenidas e sustentadas pela busca de um hiato pra esconder em qualquer tablatura

Há lugares sedentos por gritos de liberdade
Estopins com urgência de chamas
Da pra ser o que grita ou o que cala
O que acende ou o que apaga
Só não dá pra não ser

Porque não abençoar com o consolo Daquele que vive fora do tempo
Salmodiar o Divino, apresentar belos hinos,
Sair do secreto sorrindo e derramando
Alforria, euforia, aforismos

Porque não tentar?
Já fizeram tanto por nós, revolucionaram por nós. Muitos gritaram!
Incendiaram tantos corações e nos abençoaram tanto.
Posso ouvir o silêncio dos que pararam suplicar:
- Por favor, continua!