CINCO DE AGOSTO

CINCO DE AGOSTO

Para que serve um poema? Para quê?

Talvez enterneça um coração que se queira enternecido… Talvez o poeta se sinta um encantador de sensibilidades.

Hoje - cansado demais para qualquer coisa - poeto.

Sim, poeto sem mais romantismo. Não tento seduzir ninguém. Escrevo ao leitor atento sem tentar iludi-lo. Não ponho personas sobre minha face.

Eu apenas proponho versos (ou prosas…) para um dia que não deu certo.

Não tenho um nome de mulher para trovar.

Não acho que haja amor por aí: As pessoas apenas andam pelo mundo.

De repente, sem muita razão, uma tristeza assentou feito sereno na noite. Por mais que eu tente, as vitórias são relativas e as derrotas são absolutas.

Eu devia estar feliz, mas não estou.

Em todo caso careço de poetar. Forço as palavras até que façam sentido!

Quem disse que um poema não sirva para capitular? Cessar fogo! 

Eu poeto sobre a derrota d'esse dia. Esse diazinho aziago em que fiz favores à beira do servilismo e não senti bem nenhum em ajudar aos outros.

Afinal, quem avaliou a qualidade do ouro da regra dourada? Não será falseio essa caridade platônica de amar sem objeto definido?

Filantropo, amo uma humanidade sem rostos. Talvez um amor impossível em si. Ainda assim, escrevo.

A utilidade do poema é dizer o que a mente evita. O papel aceita qualquer coisa… Por isso o poema pode o que pensamento poda.

No fundo, talvez poesia seja apenas isto.

Escrevo versos para um dia que acabou escuro.

Matozinhos - 2020