O FIM DO DIA
Nas margens do bosque o sol cansado ainda domina.
Dentro dele, pelas veredas cobertas de pedra, formam-se
os lajedos frios e tortuosos pelas mãos imprecisas do homem.
Eu pego o sol pela mão e tento caminhar com ele pelas ruelas
como um farol que pode me aquecer. Mas ele é expulso pelas
sombras sob a cumplicidade do silencio.
O frio toma meu corpo e meu espírito desprevenidos.
O sol contrafeito, deixa-se cobrir de horizontes e
mergulha atrás da terra, deixando um halo ocre cor de cobre.
As sobras do dia cobrem, então, de um escuro acinzentado a
paisagem de linhas indefinidas. O bosque enegrece subitamente.
Pássaros em dupla voam rápidos e precipitam-se no céu, tornan-
do-se invisíveis em segundos.
Há um comando que guia a todos quando o dia termina. Um
vazio enorme toma o espaço e meus olhos tristes, transportando
o vazio para dentro de mim.
Meu coração, mesmo sem ver, sabe que é noite e suas
palpitações começam.
Mesmo sabendo que ele voltará, o dia deixa em nós, um ar de
cemitério quando parte.
É que a ideia de finitude nos deprime e nos revela a falácia da eternidade.