SÓ SOBRE
Não é só sobre o pôr do sol!
É sobre pôr cada sentimento
Em seu devido lugar
E equilibrar a existência
No tênue fio das paixões insanas.
É sobre pôr pesos e medidas
Na razão e na emoção
E extrair um fatorial,
Um mínimo e um máximo multiplicador comum,
Uma raiz quadrada
E enquadrar as ilusões
Numa moldura invisível e sem rosto.
É sobre sobrepor a felicidade acima de tudo,
Somando prazeres,
Diminuindo dores,
Dividindo experiências
E multiplicando precauções,
A fim de evitar um saldo negativo
Em decepções previsíveis.
É sobre querer o impossível,
E saber que uma vida não basta para alcançá-lo.
É viver a inexpugnável dor
De saber-se limitado pela consciência.
É, sobretudo, sobre tudo
O que angustia o coração e corrói a alma.
É sobre como saber-se frágil,
Diante de tantos desejos contraditórios,
Latentes, jamais saciados,
Controlados pelos desejos de outrem.
É sobre sentir-se em pedaços
Por almejar viver por inteiro.
É sobre um fim que não quer justificar os meios
E sobre um início sem justificativas plausíveis.
É só sobre.
Só sobre ser ser, e jamais o ser.
Cleusa Piovesan
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