HORAS
Nas horas largas das tardes calorentas
Morrem desejos, morrem amores
Morrem vazias lembranças
Onde ainda vivem as dores
Na hora sombria do ocaso
No lusco-fusco da memória embotada
Só a certeza indecifrável
De que se viveu para voltar a ser nada
Nas invernais horas perdidas do dia nublado
Vêm a saudade do que ainda há de vir
E uma lágrima escorrega em tênue fio
Molhando a dor de apenas existir
Na hora fria da secreta luxúria
Que envolve o corpo que delira e se contorce
Não há consolo nem prazer que acalente
As tentações de quem a realidade distorce
São tantas horas de emoções vãs
Numa mistura de sentimentos confusos
Que vêm embebidos da nostalgia das horas
Que nos escaparam na sutil troca de um fuso
Cleusa Piovesan
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