Alguém desimportante

Algumas metas de alguém profundamente desimportante para esta manhã de terça:

Adentrar-me nas profundezas da lâmpada de quarto

Lavar a louça com os ouvidos na literatura de Belchior

Fugir dos grandes que nunca li

Brincar com palitos de fósforo.

Deixar que a o café me consuma

Falar alto na cozinha

Ter mania de grandeza.

Lembrar que não dei certo:

Já roubei um caderno na infância

Já dei o dedo do meio a um motorista de ônibus

Já perdi documentos

Trabalhei em firma

Desempreguei

Passei por terapias que me confundiram

E conversas de bar que me libertaram

Experimentei corpos ilícitos

E drogas permitidas pelo bom senso.

Não sei onde estou até hoje

Sinto que devo ter mais ou menos mil almas

Onde é que encontro a força que me leva a ser humana?

Quando penso no peso da rotina

Que vem e traz nova roupagem

olho pro fundo do espelho do ontém

E vejo uma desconhecida.

É complexo, não quero pensar agora.

Minha meta de hoje é só sobreviver a esta terça, como alguém desimportante faria.

Aziza Basso
Enviado por Aziza Basso em 28/07/2020
Reeditado em 28/07/2020
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