Alguém desimportante
Algumas metas de alguém profundamente desimportante para esta manhã de terça:
Adentrar-me nas profundezas da lâmpada de quarto
Lavar a louça com os ouvidos na literatura de Belchior
Fugir dos grandes que nunca li
Brincar com palitos de fósforo.
Deixar que a o café me consuma
Falar alto na cozinha
Ter mania de grandeza.
Lembrar que não dei certo:
Já roubei um caderno na infância
Já dei o dedo do meio a um motorista de ônibus
Já perdi documentos
Trabalhei em firma
Desempreguei
Passei por terapias que me confundiram
E conversas de bar que me libertaram
Experimentei corpos ilícitos
E drogas permitidas pelo bom senso.
Não sei onde estou até hoje
Sinto que devo ter mais ou menos mil almas
Onde é que encontro a força que me leva a ser humana?
Quando penso no peso da rotina
Que vem e traz nova roupagem
olho pro fundo do espelho do ontém
E vejo uma desconhecida.
É complexo, não quero pensar agora.
Minha meta de hoje é só sobreviver a esta terça, como alguém desimportante faria.