Ceticismo

Nas entrelinhas do sempre,
sempre que houver alguém só, 
há de vir uma poesia,
mesmo que seja vinda do pó,
trazendo na manhã raiada
o colorido da boca rosada,
de outras tantas quantas vezes beijada,
mas, sem o duro rancor do adeus.
Sempre nas entrelinhas,
sendo em meio ao pó... Hoje,
um dia há de subir.
Queira o mar, o chão, a terra
apenas, somente o céu ficará
no espaço, pousará a palavra,
a dádiva, o dom de ser companheiro
tranquilizando o aflito,
levando fé ao desesperado,
legando amor ao solitário,
chamando a justiça intimamente de você,
irmanando os povos, as raças.
Nas entrelinhas sempre,
sempre haverá uma cláusula,
parte de cada um
sendo um todo feito à todos,
àqueles que procurarem entender
a força tamanha da palavra.
Ah, é um sonho sentir-me capaz,
achar, pensar que minha palavra
um dia possa abastecer de fé,
credulidade aos necessitados,
traçando união e paz.
Mas, reservo-me o direito de resguardar o desejo
e esperar, imaginando não ter sido tão inapto,
delegando a quem menos preocupado,
possa tropeçar em palavras caindo nas entrelinhas,
para entender e saborear o dito.