Vou ser bailarina
Queria muito ser como os poetas,
mas eu olho a lua e vejo a lua...
Um dia até pensei que eles caminham pelo choro os seus risinhos
e que os poemas são meros souvenirs, fake news, origamis,
mas aí noto a adolescência num velho poema
-ainda ontem vi Quintanilhas nas paredes do teatro-
e volto a querer ser como os poetas,
e não envelhecer,
mas eu olho a lua e vejo a lua...
Já tentei um pensamento mais brilhante ao ler Neruda,
mas meu verso se comporta demais
e no final em vez de poema coloquei: delito.
Não sirvo nem de inquilina; total rejeição; braços debruçados. O papel me concedia surras de chinela.
Então me veio a ideia:
farei o verso que resta, sem olhar verso nenhum;
serei meu próprio poema;
da luz mais falha não terei vergonha,
farei como a chuva quando chove: só chove,
ou um barulhinho bom dos sinos,
mas ficou estranho, com bocas enormes.
Desisti de ser poeta,
vou ser bailarina.
Mas gosto tanto de pizza...