das coisas mais simples que escrevo

Hoje acordei com preguiça.

Que o soneto se rime sozinho!

num trecho de tábuas

entre o parapeito e as vertigens.

Que chova aos piqueniques,

e em tumultos inteiros as formigas e as crianças corram

docemente.

Que alguém escreva um poema de amor que me dê medo;

mas aos alçapões ainda sonhe luz a sombra e o chão, pisar.

e que as lembranças riam de rasgar o talo,

como se alcançassem o céu mais alto da noite passada.

Que as coisas mais simples que escrevo

ditassem saltando o poema mais culto.

Que as formas de cantar dos passarinhos

calassem de pavor os bacamartes;

e que voassem desde o nascimento!

à ideia de um verso constante e infinito,

pensamento brilhante do poeta.